percurso pedestre
PR 1
A “Rota dos
Galhardos” é um percurso pedestre que aproveita em
grande parte o troço de duas calçadas romanas, uma
delas com a designação de Galhardos e a outra de
Cantarinhos. É um percurso de Pequena Rota (PR) que
se realiza em plena Serra da Estrela e que envolve
apenas a freguesia de Folgosinho, como ponto de
partida e de chegada.
Partindo do Largo da
Fonte em direcção à Serra, logo chegamos ao Largo
dos “lavadores públicos”. Aqui encontramos um painel
referente ao percurso, que será de consulta
obrigatória. É junto aos tanques que começa a
denominada “Rota dos Galhardos”, nome de pequenos
demónios que, segundo a lenda, fizeram a calçada
numa noite, a qual devido à sua inclinação, só
poderia ser obra sua. Na realidade trata-se de uma
calçada construída durante a ocupação romana.
(
... Estes trechos de calçada fazem possivelmente
parte da Via Romana que atravessava a Serra da
Estrela. Vinda de Valhelhas e de Famalicão, a
estrada cortaria direita da Quinta da Taberna a
Folgosinho. O percurso da Calçada dos Galhardos
deixa supor uma ligação em Gouveia, talvez
contornando pelo sul a serra de S. Tiago ou descendo
em linha recta de Folgosinho até aquela cidade.) –
A Arqueologia da Serra da
Estrela – Jorge de Alarcão
Partindo-se do
“lavadouro” segue-se pela rua da Serra. Mais à
frente vamos encontrar à esquerda um caminho
asfaltado com a indicação de Viveiros de Folgosinho,
que apesar de merecerem uma visita, ficam fora da
nossa rota.
Continuando a rua da Serra e já fora do aglomerado
urbano, vamos encontar uma cortada à esquerda. A
sinalização indica-nos o sentido do percurso.
Após passarmos o
campo de futebol e alguns metros depois, entramos
verdadeiramente na Calçada dos Galhardos,
encontrando a primeira das quatro casas de abrigo
mandadas construir por João de Vasconcelos nos anos
quarenta e que serviam de refúgio às intempéries a
quem para, ou da serra, vinha com rebanhos e
espigas de centeio, carregadas em carros puxados por
bois.
Apesar de a subida
ser íngreme, o trilho faz-se com alguma facilidade
parando de quando em vez para contemplar os
horizontes. A paisagem é soberba, quer se olhe a
poente ou no sentido da serra.
Quase junto à segunda
casa de abrigo, a calçada termina abruptamente e à
direita surge-nos um pequeno bosque de bétulas, que
nos irá acompanhar durante alguns metros até à
Portela de Folgosinho.
Aqui, cruzam-se três
vias: à direita para Folgosinho, em frente para os
Casais e Assedasse e à desquerda para Videmonte. É
neste último sentido que segue o percurso.
Esta estrada
atravessa o planalto de Videmonte, que constitui uma
linha natural de separação entre a serra virada ao
Atlântico, beneficiando da humidade trazida pelos
ventos e que determinam o tipo de vegetação
existente nessas encostas e o outro lado, mais seco,
onde eventualmente poderemos encontrar algumas
espécies que nos dão a indicação de zonas micro -
climáticas do tipo mediterrâneo.
Continuando por essa
estrada, onde de resto se cruzam também duas Grandes
Rotas, uma marcada pelo Parque Natural da Serra da
Estrela e a outra integrada na rede de percursos das
Aldeias Históricas da INATEL designada por GR 22,
que seguiremos no caminho certo deste percurso de
Pequena Rota.
Alguns afloramentos
rochosos vão competindo com a vegetação. Um pouco
afastado do caminho, mas devidamente assinalado,
encontra-se um pequeno penhasco que o tempo moldou,
dando-lhe a aparência da cabeça de um Faraó.
Contudo outros
afloramentos igualmente esculpidos pela natureza,
podem ser vistos ao longo do trilho: A Velha, a
Pedra Furada e muitos outros, que não tendo uma
designação em especial, poderão igualmente
sugerir-nos outras formas e figuras.
Mais à frente, um
pequeno bosque misto, onde predominam Bétulas e
Pseudotsugas, presenteia-nos com tantas cores quanto
as estações do ano, sendo agradável no pico do sol,
uma pequena paragem para um merecido repouso
aproveitando as suas sombras.
Um pouco antes do
sítio do “Jogo da Bola”, deixamos a estrada e
apanhamos o trilho à direita que nos dará conta de
uma outra calçada, também ela romana: “ Calçada dos
Cantarinhos” também designada por “Pé da Serra”.
O percurso entra
aqui na sua fase descendente e será quase sempre
assim até Folgosinho.
A descida
proporciona-nos uma paisagem soberba, valendo sempre
a pena pequenas paragens, para melhor a apreciar.
Já no fundo da
encosta, cruzamos a Ribeira do Freixo e aí a calçada
termina, fazendo-se o resto do percurso, por um
caminho de terra batido até ao lugar designado por
Moinhos do Forno.
Daqui à Vila será um
“saltinho”. Por entre a sombra de castanheiros e
carvalhos, podemos olhar ainda os campos sempre
verdes e de quando em quando o trabalho árduo de
homens e mulheres, que souberam com mestria buscar
nas encostas um punhado de solo fértil para o pão de
cada dia.
Por fim, é a chegada
à Vila e depois de se reporem energias numa qualquer
simpática tasquinha, para “esmoer”, vale sempre a
pena uma última visita pelo povoado, que alguns
acreditam ter sido o berço de Viriato.
FLORA
Em
outras eras, todas estas encostas se encontravam
cobertas de intensos carvalhais (Quercus
pyrenaica). Contudo, o corte sistemático e o
pastoreio intensivo desnudaram as serras que muitos
anos depois viriam, no âmbito da política florestal
do Estado Novo a serem povoadas por pinheiro bravo.
Como consequência, a falta de pastos, levou a que
muitas pessoas procurassem outros destinos para
sobreviver, dando-se inicio à emigração.
Apesar
dos incêndios ocorridos nos últimos anos, é ainda
possível constatarmos a presença de manchas
significativas de pinheiro bravo (Pinus pinaster),
que constituem uma fonte de rendimento
significativa. Para além desta espécie, podemos
ainda presenciar pequenos núcleos de Pinheiro
silvestre (Pinus sylvestris), vidoeiro (Betula
pubescens), Pseudotsuga, e nas zonas mais baixas
e com alguma humidade, o castanheiro (Castanea
sativa).
As
comunidades arbustivas não são especialmente ricas,
contudo podem ser observadas a urze branca (
Erica arborea), a urgeira (Erica australis),
sargaços (Halimium alyssoides) e muitas
outras espécies.
No
Outono, ao longo das veredas e em especial nos
bosques caducifólios, podem ainda ser observados
algumas espécies de cogumelos, nomeadamente boletos
e amanitas.
FAUNA
Longe
vão os tempos em que o lobo dominava as serranias,
povoando o imaginário popular.
Hoje em dia, este
predador constitui já um mito e na falta dele, o
javali viu aumentar nos últimos anos os seus
efectivos, constituindo um problema para as
populações locais que vêm as suas culturas
destruídas.
O texugo, a gineta e
a raposa são ainda espécies que com alguma
frequência podem ser vistos, ainda que de forma
fugidia.
Algumas espécies
cinegéticas, nomeadamente a perdiz, o coelho e a
lebre são observadas com alguma assiduidade. Lá no
alto, a águia de asa redonda (Buteo buteo),
paira sobre as encostas aproveitando as correntes
ascendentes.
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